Uma investigação da Polícia Civil sobre as ações de um núcleo do Primeiro Comando da Capital (PCC) responsável por “tribunais do crime” no interior paulista mostra que a população apela, muitas vezes, para a “justiça paralela” a fim de solucionar questões do dia a dia.
Apontado como o principal líder da facção na região de Taquaritinga, Alexsandro Cardoso Mota, o Satanás, também é chamado de “Sandrinho”, nome usado por algumas pessoas para intimidar desafetos. Foi isso que aconteceu, por exemplo, com uma cuidadora de idosos, em maio de 2022, no bairro Buscardi, em Taquaritinga.
Em um boletim de ocorrência de ameaça obtido pelo Metrópoles, a mulher afirmou, em depoimento, ter sido uma das “vítimas” do nome. Segundo a cuidadora, ela teria sofrido um mal súbito enquanto dirigia, provocando um acidente de trânsito.
Disposta a ajudar no conserto do outro veículo, ela não imagina que o valor orçado chegaria a R$ 3 mil. “Não sabia que iria ficar esse preço alto e não tinha dinheiro para pagar tudo”, diz trecho do relato.
A mulher, então, teria recebido uma ameaça ao tentar negociar o valor. “Se você não pagar, vai receber uma visita do Sandrinho”, teria dito o outro motorista.
No dia seguinte, no período da tarde, a cuidadora afirmou que vizinhos relataram a passagem de um carro cantando pneus na frente da casa dela. O suspeito, que guiava o veículo, ainda teria perguntado sobre a mulher.
Geladeira e ameaça
Em caso semelhante, “Sandrinho” foi mencionado em uma compra de geladeira. Em 28 de novembro de 2022, no bairro Distrito Industrial, ainda em Taquaritinga, um técnico vendeu uma geladeira para uma mulher, na cidade de Matão, interior de São Paulo.
Dias depois, a cliente relatou que o aparelho havia parado de funcionar. Ele, então, substituiu o eletrodoméstico por outro até fazer a manutenção da geladeira com problemas.
A cliente teria concordado, mas, dias depois, decidiu desfazer o negócio, pedindo o dinheiro de volta.
O técnico argumentou que, naquele momento, não tinha os R$ 2 mil e pediu para ela aguardar. A cliente, porém, acionou uma prima, moradora de Taquaritinga, que teria orientado a resolver o problema acionando o crime organizado. “Ela informou que iria chamar o Sandrinho”, disse o vendedor.
Crueldade
Como revelado pelo Metrópoles, um cadáver encontrado pela Polícia Militar em uma ronda de rotina no interior paulista, em janeiro deste ano, contribuiu para a descoberta do núcleo do PCC chefiado por Satanás no interior de São Paulo.
Ele integra a Sintonia dos 14, composta por membros do PCC responsáveis pela coordenação e o cumprimento das regras da facção em 14 regiões específicas da capital, Grande São Paulo e interior.
Por telefone, videoconferência e, em alguns casos, pessoalmente, são os sintonias que “batem o martelo” nos tribunais paralelos, por meio dos quais a polícia atribuiu às ações de Satanás a morte de dez pessoas, até o momento. Seis delas teriam ocorrido desde janeiro. O chefão, de acordo com registros oficiais, impõe seu reinado de terror na região desde 2010.
Satanás teve a prisão preventiva decretada e segue foragido até a publicação desta reportagem, como consta nos registros do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP).
Por Metropoles