Comando Vermelho (CV), Terceiro Comando Puro (TCP) e Amigos dos Amigos (ADA), principais facções criminosas do Rio de Janeiro, dependem cada vez menos do tráfico de drogas para sobreviver, de acordo com informações do Setor de Inteligência da Polícia Militar do estado.
A conclusão foi apresentada nesta sexta-feira (18/10), durante o Cop Internacional, evento de segurança pública realizado na zona sul de São Paulo.
Os traficantes agora apostam no domínio territorial e em um modelo de extorsão adotado pelas milícias para lucrar nas comunidades. Para o coronel Uriá Ferreira, subsecretário de Inteligência da Polícia Militar do Rio de Janeiro, o tráfico de drogas se tornou “folclórico” no Rio de Janeiro.
“Essa exploração da venda de drogas se tornou algo folclórico. Hoje o crime se abastece de outras atividades, se infiltrando em serviços do estado, como a cobrança para distribuição de internet, luz e água”, disse Uriá Ferreira.
Segundo o coronel, o novo modelo de negócio das facções criminosas obrigou a Polícia Militar do estado a reestruturar as estratégias para combater o crime organizado. A luta contra o tráfico de drogas nos pontos de venda tem cada vez menos efeito, diz ele.
“Hoje, 50% do nosso trabalho é fazer contato com as concessionárias, falando para fazer ou refazer o trabalho deles. Na prática, o combate ao tráfico de drogas não causa mais tanto prejuízo financeiro para as facções”, afirma o subsecretário de Inteligência da PMRJ.
A Polícia Militar carioca estima que pelo menos 1.625 áreas estejam sob controle do crime organizado em todo o estado. Além de Comando Vermelho, Terceiro Comando Puro e Amigos dos Amigos, o número contempla áreas dominadas pelas milícias e por outros grupos.
O CV, principal facção do Rio de Janeiro, domina a maioria das áreas: 1.015. O TCP domina 350; as milícias, 205; e a ADA, 55.
Expansão
De acordo com Uriá Ferreira, o Comando Vermelho está presente em pelo menos 23 estados do país, além de alianças com facções de pelo menos cinco estados. O Terceiro Comando Puro tem alianças com facções em outros seis estados.
O coronel afirma que o processo de expansão se intensificou nos últimos anos em razão de uma decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Edson Fachin tomada durante a pandemia de Covid-19, em 2020.
No âmbito da ação direta de descumprimento de preceito fundamental (ADPF) movida pelo Psol, Fachin determinou, de maneira liminar, uma série de restrições a operações policiais em comunidades no Rio de Janeiro.
Para Uriá Ferreira, a decisão fortaleceu o domínio territorial das facções e permitiu a externalização. Além disso, diz ele, criminosos de outros estados estão se refugiando no Rio de Janeiro.
“Os efeitos da ADPF 635/2020 são irreversíveis. Não são efeitos só para o Rio de Janeiro, os efeitos são sentidos em todos os estados. Todo o país sofre, não só o Rio de Janeiro”, afirmou.
Por Metropoles