Um veículo conduzido por policiais penais da Secretaria de Administração Penitenciária de São Paulo (SAP-SP) foi alvo de um atentado neste fim de semana. O Metrópoles teve acesso a imagens e áudios de dois supostos ataques, ocorridos dias após a descoberta de um “salve geral” determinando a identificação e a localização de profissionais que trabalham em penitenciárias por membros do Primeiro Comando da Capital (PCC).
A carta foi apreendida com presos da Penitenciária de Parelheiros, na zona sul de São Paulo. O Metrópoles apurou que o mesmo tipo de documento, escrito à mão, também teria sido interceptado em outras unidades prisionais, ainda não especificadas. Os “salves” já são monitorados pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público (MPSP).
A SAP, em nota enviada à reportagem, nesse domingo (13/10),”nega qualquer ataque a seus agentes”. Sobre o veículo incendiado, afirma que o carro de transporte de presos “sofreu uma pane elétrica” na noite de sexta-feira (11/10), “durante as fortes chuvas” que atingiram a capital paulista e, após isso, pegou fogo.
A Secretaria da Segurança Pública (SSP), em nota encaminhada ao Metrópoles nesta segunda-feira (14/10), diz, no entanto, que as causas do incêndio ainda “estão sendo apuradas”.
Um dos ataques ocorreu na Avenida Doutor Gastão Vidigal, perto do Centro de Detenção Provisória (CDP) de Pinheiros, na zona oeste paulistana. Uma viatura foi incendiada (foto em destaque). “[A viatura] quebrou aí uns caras chegaram hostilizando, o motorista saiu fora e colocaram fogo na VTR [sigla para viatura]”, disse uma fonte em sigilo à reportagem.
A reportagem apurou que o motorista resguardava o veículo, parado após apresentar falha mecânica, quando transportava 18 presos do Fórum Criminal da Barra Funda de volta ao CDP. O carro quebrou em frente a um portão de acesso à Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp).
A transferência emergencial dos presos foi providenciada por outra viatura que, com apoio de escolta, conduziu imediatamente os criminosos de volta para a cadeia, como consta em registros oficiais.
O carro quebrado ficou sem proteção da escolta e, de acordo com depoimento de dois policiais penais à Polícia Civil, obtido pelo Metrópoles, ambos foram alertados sobre a viatura “ter sido incendiada” por ao menos um suspeito, cuja identidade ainda é investigada.
Ataque a tiros
O outro ataque, também registrado neste fim de semana, foi no sentido São Paulo da Rodovia Fernão Dias. Em um áudio, um agente pede apoio após troca de tiros com “dois ladrões”.
Uma fonte ligada à SAP que acompanha o caso afirmou ao Metrópoles, em sigilo, que o agente preferiu não registrar o caso, com medo de perseguição e represálias. A reportagem tentou entrevistar o policial penal, sem sucesso.
“Tomaremos providências”
No manuscrito obtido pela reportagem, assinado pela Sintonia Final da maior facção do Brasil e datado em 17 de setembro, é dado o prazo de 30 dias para que os criminosos responsáveis pelos presos de pavilhões ou raios, chamados de “jets”, levantem os nomes e endereços de dois agentes penitenciários por unidade.
“Tomaremos nossas providências […] deixando um papo para que dentro desses 30 dias determinamos os irmão faça acontecer e chegar em nossas mãos, aguardando esse levantamento como caráter de urgência.” [sic]
A Sintonia Final é composta por líderes do alto escalão do PCC, que usam a instância máxima do crime para tomar decisões e ordená-las.
Ainda no documento apreendido na penitenciária da zona sul paulistana, há outra determinação. Os “jets”, também com “caráter de urgência”, devem informar se as unidades onde estão presos há bloqueadores de sinal de celular, bem como relatar condições para não deixar rastros ou provas da articulação feita para os eventuais ataques. O “salve” também solicita que seja especificada “a dificuldade dos irmão” para cumprir a missão.
“Daremos todo o suporte para que colocaremos a unidade do ar [fique com comunicação] onde com caráter de urgência nos manda esse requisitos citados acima. Ass: Sintonia Final.” [sic]
Policiais de prontidão
Após as apreensões dos bilhetes, os policiais Penais de São Paulo ficaram alertas e permanecem de prontidão.
Fábio Jabá, presidente do sindicato que representa a categoria, afirmou ao Metrópoles que a dinâmica do trabalho dos agentes os deixa expostos e sem segurança quando estão nas ruas.
“Nós trabalhamos 12 horas [por turno], com pessoas presas e perigosas, ainda mais em São Paulo, onde tem o PCC. Nós reivindicamos do governo um maior cuidado com a categoria, para que tenha no mínimo o direito de se defender”, disse, acrescentando que os agentes não contam com porte de arma institucional.
Administração Penitenciária
Em outra nota enviada à reportagem, na sexta-feira (11/10), a secretaria não comentou os salves do PCC interceptados nas unidades e quais medidas teriam sido tomadas em relação aos presos flagrados com as mensagens.
A pasta afirmou somente que, com a criação da Polícia Penal, que começa a atuar em 2025, agentes que atualmente trabalham desarmados nos presídios “serão capacitados”. “Não terá o porte quem não manifestou interesse e não cumpriu os requisitos legais”, destacou o órgão.
A Secretaria da Segurança Pública (SSP) de São Paulo também foi questionada sobre como as polícias Civil e Militar irão agir, ou já atuam, com relação aos eventuais ataques sugeridos nos salves. Nenhum posicionamento foi encaminhado. O espaço segue aberto.
Por Metropoles