Delegado sobre morte de filho engasgado: “Sou chamado de assassino”

Delegado disse que fez “de tudo para salvar a vida do filho”. Ele tem sido apontado, nas redes sociais, como negligente com a criança.

Após a morte do filho de 2 anos, engasgado com a tampa de uma garrafa pet em Macapá (AP) na última sexta-feira (7/1), o delegado Carlos Alberto Gomes Pereira Filho, pai da criança, quebrou o silêncio pela primeira vez sobre o caso e se pronunciou, nessa terça-feira (11/1), por meio de uma carta enviada à imprensa.

Arthur e o pai estavam em casa sozinhos quando o acidente aconteceu. Desde a morte do menino, o policial civil tem sido apontado, nas redes sociais e pela família materna da criança, como negligente com o filho.

Na carta, Carlos Alberto afirma que tentou de tudo para salvar Arthur: “Eu fiz de tudo para salvar a vida do meu filho. Quando ele engoliu a tampinha, estava próximo de mim, e o fez no momento em que eu estava organizando as coisas pós-almoço. Não houve falta de cuidado, ele estava sendo monitorado”.

“Estou em tratamento psiquiátrico e a cada acesso a redes sociais, as pessoas que jurei defender no exercício do meu dever de delegado de polícia só ajudam a compartilhar notícias de que matei meu filho. NÃO BASTASSE EU PERDER QUEM MAIS AMEI NESTA VIDA NO MEU COLO, TENHO AINDA QUE PROVAR QUE NÃO O MATEI. Não basta a pena do sentimento de impotência por não conseguir salvar meu filho?”, questiona, no texto.

Segundo ele, a situação “foi uma tragédia que eu não desejo a nenhum pai ou mãe”. O delegado ainda questiona quem consegue imaginar “que o filho vai morrer por ter uma garrafa pet de água mineral em casa”.

“Em qual contexto esse resultado é imaginável ou esperado? Qual pai pode ser apontado como negligente por isso? Na verdade, fossem as acusações só de negligência, seriam menos dolorosas. Estou diariamente sendo chamado de assassino”, continua ele.

Atendimento médico

O pai da criança relata que organizava a casa quando percebeu que o filho estava em silêncio e não se mexia. Apesar de perceber que havia algo de errado com a criança, o delegado não conseguiu identificar o problema e o levou a uma unidade de saúde da região.

“Assustado e sozinho, tentei identificar o que estava ocorrendo, mas, no momento de desespero, não consegui entender ou detectar o motivo. A reação que consegui ter naquele momento foi checar os sinais vitais, que estavam presentes”, conta.

Carlos Alberto afirma que, chegando ao local, um médico atendeu Arthur imediatamente. Entretanto, a equipe médica decidiu acionar o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).

“A equipe médica optou por chamar o Samu, que chegou após aproximadamente 30 minutos, o que aumentou ainda mais a minha angústia, já que não sabia o que estava acontecendo com o meu filho. Após a sua chegada, a equipe do Samu rapidamente identificou o problema e retirou uma tampinha de garrafa pet das vias aéreas do meu filho. Infelizmente, ele já não apresentava mais sinais vitais”, narra o pai.

Delegado não compareceu ao velório

O policial civil decidiu não aparecer no velório e enterro do filho. Na carta, ele explica que as ameaças que estava sofrendo desde a morte da criança. Além disso, o delegado afirma que a presença dele no local poderia causar um desconforto maior aos familiares maternos de Arthur.

Ele ainda explicou que demorou para se pronunciar pelo desgaste mental que está tendo com a situação.

O pai do menino se solidarizou com a família, mas pediu: “quero que não se esqueçam que eu também sou a família”.

“Todos estão sofrendo muito, jamais em minha vida gostaria que isso tivesse ocorrido. Não desejo isso a ninguém, eu era o maior interessado em ver meu filho bem. Mas não se esqueçam que sou um pai que assistiu ao seu filho morrer. Não quero dizer que minha dor é maior que a de ninguém, mas também não é a menor”, finalizou ele.

Por Metropoles

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