Homem é preso suspeito de agredir e torturar esposa há 20 anos em Rolim de Moura

De acordo com o delegado, em situações como essa os procedimentos tomados independem da vontade da vítima.

Após uma denúncia anônima, um homem de 46 anos foi preso nesta segunda-feira (18), em Rolim de Moura (RO), suspeito de agredir, torturar e, por várias vezes, manter a esposa em cárcere privado. De acordo com a Polícia Civil, as situações de violência doméstica acontecem há 20 anos.

Durante a investigação, os policiais da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher de Rolim de Moura (Deam) colheram depoimentos de testemunhas que presenciaram alguns episódios de violência, direta e indiretamente. A mulher não quis comparecer à delegacia para denunciar o caso.

“Ela sempre foi oprimida de tal forma que nem cogitava denunciar. Se não houvesse a denúncia anônima jamais saberíamos que ela estava sendo vítima dessas circunstâncias”, comentou o delegado Fábio Moura.

De acordo com o delegado, em situações como essa os procedimentos tomados independem da vontade da vítima. Por esse motivo a polícia pediu a prisão preventiva do suspeito, assim como busca e apreensão de armas de fogo que ele possuía, mesmo que de forma legal.

Armas de fogo apreendida em Rolim de Moura, com suspeito de violência doméstica. — Foto: Polícia Civil/Divulgação.

Situações de violência

A mulher foi submetida ao longo de 20 anos às agressões. Os padrões eram basicamente os mesmos: o homem não concordava com algumas situações, acumulava o ressentimento e, sob efeito de álcool, agia com objetivo de puni-la pelo que ele considerava “errado”.

Em uma das situações, o suspeito trancou a mulher sem roupa no quarto, ligou o ar condicionado na temperatura mínima e a deixou passar a noite no frio completo. Em outra ocasião, após a comida queimar, ele teria a obrigado a comer todo o alimento como punição.

“Quando ele estava para retornar do trabalho, cerca de uma hora antes ela começava a ter palpitações de nervoso para ver se a casa tava toda organizada, para não ter reclamação, porque ela sabia que no final de semana, quando ele bebesse, ela ia sofrer as consequências”, relata o delegado.

O homem foi indiciado pelos crimes de constrangimento ilegal, lesão corporal e cárcere privado. Ele deve permanecer preso, à disposição da Justiça, como forma de impedir que ele interfira na investigação e de garantir a segurança da vítima.

Danos psicológicos

De acordo com a psicóloga e presidente da Associação Filhas do Boto Nunca Mais, Anne Cleyane, um relacionamento abusivo tão longo, cercado de violências física e emocional, pode gerar uma situação de dependência na vítima.

“Imaginemos esse cenário por 20 anos, essa mulher deixa de saber o que gosta de comer, como gosta de se vestir, não sabe mais como socializar e dúvida dos próprios sentidos, por isso, pautada em seus traumas, pode ter problemas a denunciar o agressor ou até mesmo abrir mão da situação do cárcere”, aponta.

De acordo com Anne, essa dependência é causada por uma série de fatores causados pela violência psicológica. A mulher chega a pensar que não há outra saída, que ela não conseguiria sobreviver sem o abusador.

“Um relacionamento abusivo tende a diminuir a autoestima da mulher a ponto dela se sentir extensão do corpo do abusador, devido a objetificação que ela passa nessa relação, a violência psicológica através de falas do agressor convertendo a culpa das agressões a ela, levando a mesma a acreditar que sem ele não sobreviverá”, diz.

 

 

Por G1 RO

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