Completando 76 anos, PF combate o coronavírus e a corrupção e espera sua Lei Orgânica

Trabalhar em condições adversas não é uma novidade para os policiais federais. Muitos dos brasileiros nos veem como os policiais de preto que conduzem criminosos renomados. Mas o trabalho de um policial federal vai bem além disso.

A Polícia Federal comemora seus 76 anos neste 28 de março. Em tempos difíceis como os que estamos vivendo, é importante lembrar que cada um dos quase 11 mil policiais federais ativos de todo o Brasil está pronto para ser chamado também para trabalhar pela manutenção da saúde dos brasileiros. A Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), que representa mais de 90% da categoria, está atenta a esse chamado. Estamos em contato direto com a Direção-Geral da Polícia Federal para garantir que a saúde dos colegas que trabalham em áreas de fronteira, portos e aeroportos esteja preservada, mesmo estando na linha de frente do combate à doença.

Neste momento, em nome da nossa missão constitucional, estamos mais preocupados com as condições de saúde de quem chega do que com a nossa própria saúde. Desde o início da pandemia, solicitamos a entrega de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), necessários para evitar o contágio pelo novo coronavírus. Estamos sendo atendidos, e as máscaras, as luvas e o álcool em gel começaram a chegar.

Infelizmente já temos casos confirmados de policiais federais infectados pelo coronavírus. O primeiro deles foi justamente um Agente Federal lotado no aeroporto do Recife, que graças a Deus apresenta poucos e leves sintomas. Ele recebeu todo o apoio do sindicato local e também da Superintendência da PF em Pernambuco e está afastado do trabalho, em quarentena, assim como todos os outros policiais da mesma equipe. Estamos trabalhando para que a sua vida e de sua família estejam protegidas.

Trabalhar em condições adversas não é uma novidade para os policiais federais. Muitos dos brasileiros nos veem como os policiais de preto que conduzem criminosos renomados. Mas o trabalho de um policial federal vai bem além disso. Somos agentes, escrivães, peritos, papiloscopistas e delegados que trabalham em investigações e se dedicam a manter a Nação livre da corrupção e tão segura quanto possível.

Poderíamos fazer muito mais: como Federação Nacional dos Policiais Federais, acreditamos que, se os colegas que entram na corporação tivessem que passar por uma única porta de entrada e crescessem na carreira de acordo com seu mérito, sua capacitação e sua experiência profissional, poderíamos ser muito mais efetivos do que somos. Isso porque nos falta uma Lei Orgânica que estruture a carreira e humanize as relações internas, rumo a um futuro de modernidade e reconhecimento do seu capital humano.

Temos muito orgulho do trabalho que desempenhamos. Nós, da Fenapef, entendemos que a maior comenda que podemos receber é a confiança que a população brasileira deposita em cada um dos nossos colegas. Trabalhamos com coragem e de forma incansável para alcançarmos esse nível de confiança da sociedade. Trabalhamos pela segurança de cada cidadão.

Nosso trabalho vai bem além da prisão de personagens destacados do cenário brasileiro. Somos nós que atuamos nas fronteiras, para garantir nosso território; pela preservação do meio ambiente; no combate ao tráfico de drogas e de pessoas; na garantia dos direitos humanos; no combate aos crimes cibernéticos; na proteção a candidatos e autoridades da República; no combate diuturno à corrupção, entre outras atribuições.

Hoje, a Fenapef quer comemorar. E não apenas ao lado de nossos mais de 14 mil associados. Queremos comemorar com a sociedade. Queremos lembrar que, embora, oficialmente, tenha 76 anos, a Polícia Federal brasileira “nasceu” bem antes, sob o nome de Intendência-Geral de Polícia da Corte do Estado do Brasil, em 1808. No governo de Getúlio Vargas, foi transformada em Departamento Federal de Segurança Pública (DFSP). Isso, no dia 28 de março de 1944.

A nova Constituição também nos deu o direito de sindicalização e filiação partidária. E conseguimos avanços na conquista de nossos próprios direitos.

Foi só nos anos 2000 que a população começou a enxergar os “federais” não só como força de combate ao tráfico de drogas. O foco se voltou para o combate à corrupção, em casos como as operações Farol da Colina, Castelo de Areia, Mensalão e a Lava Jato, que acaba de completar seis anos.

Temos dois “aniversários”. O dia 28 de março é a data comemorativa da criação do Departamento de Polícia Federal, e o dia do Policial Federal é comemorado no dia 16 de novembro de cada ano – correspondente à data da sanção da Lei n° 4.483/64, que reorganizou o DFSP.

Foi uma longa jornada. Não sem percalços. Ainda não temos uma Lei Orgânica que defina claramente nossas atribuições. Temos cinco entradas distintas para a corporação, o que faz com que policiais federais, mesmo com muita qualificação, anos de experiência e carreiras impecáveis, não consigam ascender a postos de chefia, reservados a quem entra pela porta onde está escrito “delegado”. A Fenapef luta diuturnamente para mudar este quadro. Defendemos o ciclo completo de polícia, carreira única com entrada pela base da categoria e desburocratização das investigações. Pelo bem da corporação e da sociedade brasileira. Para que tenhamos uma segurança mais ágil, menos emperrada e mais barata. Temos muitos desafios pela frente. Os recursos são escassos e a renovação dos quadros não é suficiente. Os criminosos se renovam a cada dia. Nossos quadros não são repostos na mesma velocidade.

Nada disso nos desanima. Então, neste 28 de março, gostaria de cumprimentar cada um dos companheiros que, como prega a letra do nosso hino, são “orgulhosos de ser federais/policiais desse imenso Brasil/ defendemos os princípios legais/integramos sua vida civil”.

*Luís Antônio Boudens, 48 anos, é agente de Polícia Federal e presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais

 

 

Fonte: Blog do jornalista Fausto Macedo no Estado de S.Paulo

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